O teatro é a salvação do mundo, é onde a gente sonha, se emociona, se vê no outro. Vejo o teatro renascido, com força, como sempre foi”, disse Claudia Raia em entrevista ao Fringe. A atriz é protagonista e produtora do espetáculo Cenas da Menopausa, que estreia no Brasil com três sessões nos dias 6, 7 e 8 de junho, no Teatro Guaíra, em Curitiba, após temporada de grande sucesso em Portugal. Ingressos à venda AQUI.

Foto: Renam Christofoletti
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A montagem, dirigida por Jarbas Homem de Mello e com texto de Anna Toledo, traz humor e emoção para retratar as vivências de mulheres que estão na faixa dos 50 anos. A protagonista, Teresa (Claudia Raia), é uma corretora de imóveis que, entre ondas de calor, insônia e alterações de humor, transforma esse período em uma comédia de situações inesperadas.

Cenas da Menopausa aborda com leveza esse período transformador da vida de todas as mulheres, por meio de cenas curtas e paródias musicais que retratam os anseios e desafios da maturidade.

Foto: Renam Christofoletti
Leia abaixo a entrevista exclusiva com Claudia Raia:

Fringe:Cenas da Menopausa” trata do cotidiano das mulheres 50+, e você viveu recentemente a experiencia da maternidade nesse período. O quanto a personagem dialoga com sua própria história?

Cláudia Raia: Completamente, tem toda a minha história nesta peça e da Anna Toledo, a autora também. A personagem sou eu, são as minhas amigas, são milhares de mulheres que vivem isso em silêncio. Quando a menopausa chegou, eu nem percebi. Estava completamente desequilibrada, com calores intensos, esquecimentos, dores nas pernas, tristeza… muito diferente da mulher alegre e cheia de energia que sempre fui. Foram oito anos vivendo a menopausa — com uma pausa de dois anos durante a gravidez e o puerpério. Engravidei naturalmente aos 55 anos e foi um milagre! Fiz inseminação que não deu certo, e no mês seguinte engravidei sozinha. Tive uma gravidez na menopausa! Isso foi algo inédito. Até os médicos não sabiam o que esperar. Não há protocolo pra isso. Mas o que aprendi é que a nova mulher dos 50 anos ainda não está nos livros. A medicina não se dedica a pesquisar esta mulher e nem a menopausa, e precisamos de mais investimentos nesta área. Precisamos dar visibilidade para esta fase que atravessamos.

A dramaturgia da Anna Toledo parte das “fases do luto ovariano”. Quais são elas?

São fases parecidas com o luto: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. A peça estrutura-se sobre essas etapas. Cada ato aborda uma dessas emoções, que são muito reais na menopausa. A mulher passa por todas, e muitas vezes sozinha. Ao mostrar isso no palco, a gente ilumina esse caminho. No espetáculo, cada cena traz uma mulher diferente vivendo um momento chave da menopausa e a Teresa, é a personagem que atravessa todas essas fases.

Como transformar um assunto tão íntimo em comédia?

Falar sobre um assunto tão nevrálgico com leveza é transformador. A peça explora a mulher em diferentes fases da menopausa. E traz cenas curtas e números com paródias musicais com personagens divertidas, honestas e, por vezes, dramáticas. Cada uma delas reflete as inquietações, angústias, sonhos e desejos impactados pela maturidade e pela incontornável menopausa. A peça é engraçada porque é real. As mulheres se reconhecem, riem de si mesmas — e isso é profundamente terapêutico. O maior desafio foi encontrar esse tom: respeitoso, informativo – porque consideramos esta peça uma prestação de serviço – e, ao mesmo tempo, divertidíssima.

A peça estreou em Portugal com bastante sucesso. O que muda na montagem de um lado e do outro do Atlântico? E como foi a recepção do público luso?

Decidimos começar por Portugal justamente porque lá o tema ainda é mais atrasado. As mulheres não falam sobre menopausa, o tabu é ainda maior. Existe um silêncio muito grande, e eu senti que elas precisavam desse espaço. O público português é sempre muito afetuoso comigo, e eu quis retribuir levando um espetáculo de muita qualidade, feito com amor e propósito. Mas eu jamais imaginei que uma peça sobre menopausa pudesse tocar tanta gente: foi uma verdadeira catarse, foram mais de 80 mil espectadores em dois meses e meio da turnê. O Teatro Tivoli em Lisboa estava lotado, pulsava com mulheres rindo, chorando, se identificando. Ao final de cada sessão, eu conto sobre a minha menopausa e converso com o público. As mulheres querem e precisam falar. Querem romper esse tabu. E o mais surpreendente: os homens também participavam das conversas. Eles não sabem nada sobre a menopausa, e estavam ali para ouvir, para aprender. Assim como os jovens, que querem entender suas mães. Porque a menopausa é assunto de toda a família. Então por isso mesmo que reforço que este é um espetáculo não apenas para mulheres, mas para toda a família.

Qual o lugar de “Cenas da Menopausa” na sua trajetória e como tem sido a parceria com o Jarbas?

A arte tem sido uma ferramenta muito poderosa nesse processo. Através do espetáculo, pude falar abertamente sobre minha experiência, meus dramas e abismos, mas também das minhas descobertas e do meu renascimento. O Jarbas viveu comigo toda essa fase da menopausa na vida real, e topou o desafio de reviver tudo nos palcos. O Jarbas é um parceiro de vida e de palco, que também dirige a peça com brilhantismo. Criamos juntos, esta peça, como muitas outras. Nosso entrosamento facilita tudo. Ele é generoso, talentoso, e compartilha esse propósito comigo.

O teatro brasileiro atual em debatido bastante  temas como etarismo e envelhecimento, ao mesmo tempo em que vemos ícones desta arte ativos com mais de 90 anos. Como você vê esses dois movimentos?

Antes, uma mulher virava invisível aos 40, 45 anos e só ressurgia de novo aos 80, como uma velhinha fofa. Hoje ela traz um poder enorme para o país, inclusive socioeconômico. Hoje, temos Fernanda Montenegro com 94, plena, ativa, inspirando gerações, fazendo peças e filmes. A discussão sobre etarismo é urgente. A menopausa faz parte disso. Precisamos normalizar o envelhecimento com beleza, potência e dignidade. O palco é lugar de todos os tempos da vida.

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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