Com informações da Assessoria de Comunicação da FLIP 

Sob sol forte e ruas lotadas, Paraty viveu neste sábado (2) um dos momentos mais vibrantes da 22ª edição da Flip. Com mesas literárias concorridas, vozes potentes e encontros emocionantes, o penúltimo dia do evento transformou a cidade histórica num grande espaço de escuta, convivência e celebração da palavra.

Milhares de pessoas celebram a literatura nas ruas de Paraty. Foto: divulgação

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Na mesa “Senhora Liberdade”, o sambista, escritor e pesquisador Nei Lopes conversou com Luiz Antonio Simas, seu parceiro intelectual e afetivo de longa data. Diante de um auditório lotado, Lopes compartilhou histórias sobre sua trajetória e reforçou a importância da coletividade: “O samba realmente é uma cultura, é uma coisa completa. Existe todo um Brasil que deve extremamente à africanidade e eu assumi um compromisso com a minha ancestralidade”. Ao final, deixou um apelo: “Cooperar: é isso que está faltando”.

Samba é compromisso: dois pilares da cultura nacional, Nei Lopes e Luiz Antonio Simas. Foto: divulgação

A tarde seguiu dominada pelas vozes femininas da literatura contemporânea. Escritoras da América Latina e do Caribe revelaram suas experiências pessoais e estéticas em torno da violência, da identidade e da invenção. Na mesa “Ser mulher na América Latina”, a mexicana Dahlia de La Cerda e a argentina Dolores Reyes trouxeram ao público reflexões contundentes. Dahlia afirmou que “a literatura pode ser uma ferramenta de liberdade” e que “permite empatia com pessoas com as quais dificilmente se teria empatia”. Dolores completou: “As nossas literaturas são também uma resposta a essa realidade. As palavras podem ser terrivelmente violentas”.

Na mesa “Pertencer, transformar”, a surinamesa Astrid Roemer e a brasileira Verenilde Pereira emocionaram o público ao destacar a potência da escrita como sobrevivência. “Como homem você pode subir o quanto quiser, pode ser almirante, imperador ou rei. Mas você saiu da barriga de uma mulher”, disse Roemer. Verenilde celebrou a literatura como forma de resistência: “Ela vai evitar essa morte, essa pura violência, essa pura aniquilação. É a tanificação da própria morte”.

A surinamesa Astrid Roemer e a brasileira Verenilde Pereira emocionaram o público. Foto; divulgação

A conversa entre Cristina Rivera Garza e María Negroni, na mesa “Invenção, memória”, foi dedicada às experiências formais da escrita. Ambas transitam entre a ficção, o ensaio, o jornalismo e a crítica. “As palavras são criaturas que têm vida própria”, disse Negroni. Rivera Garza enfatizou a escuta como prática literária: “É preciso ter a linguagem, convertê-la em narrativa e encontrar nos ouvidos alheios a acolhida”.

De volta à Flip depois de mais de duas décadas, a espanhola Rosa Montero falou sobre imaginação, loucura e os enigmas da ficção, na mesa “A ridícula ideia de estar lúcida”. “Um romance é um delírio controlado”, disse com humor. “Nós, romancistas, somos pessoas que não amadurecemos totalmente”.

Rosa Montero brilhou no sábado da Flip 2025. Foto: divulgação.

A noite encerrou com uma das mesas mais divertidas da Flip: “Roçar a língua de Camões”, que reuniu o tradutor Caetano Galindo e o humorista português Ricardo Araújo Pereira. Galindo destacou que “as palavras passam por alteração de sentido desde que o mundo é mundo”. Ricardo, com ironia e inteligência, brincou com as diferenças entre o português do Brasil e de Portugal: “Gostaria de garantir que esta língua que estou a falar é a mesma que vocês falam. Eu sei que não parece”. E concluiu: “Talvez o pensamento humorístico seja uma espécie de pensamento selvagem”.

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