Com forte pegada de pertencimento à memória local, estreou no último fim de semana, em curta temporada, o musical Madrugueiro ou Alice na Cidade Sorriso, da Cia Nana Núcleo de Criação, no Teatro Regina Vogue, em Curitiba.
Para quem vive por aqui, é impossível não se conectar ao espetáculo quando vemos figuras e símbolos tão comuns à capital dos pinheirais. Seja na montagem de uma estação-tubo estilizada, na festa dos ipês coloridos que florescem no inverno, na figura da gralha-azul e, claro, no sotaque do elenco.
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O espetáculo é composto por oito atores e atrizes que se revezam entre um portal que leva Alice, personagem principal, a uma cidade sorriso na qual ela carrega lembranças de outrora, depois de voltar de um longo período em outras cercanias. Uma Alice que parece ter se perdido entre o mundo das telas e das metas, tão comuns aos dias de hoje.
De certa forma, é possível que essa Alice faça, em alguns momentos, referência àquela do País das Maravilhas, mas em um formato atual e, sobretudo, local, onde a borboleta 13 se encontra com o Oil Man e o Plá. E isso, só um autêntico curitibano é capaz de compreender. Para quem é de fora da cidade, é uma maneira incrível de se inteirar com o espaço da cidade.
É claro que, para um musical, o espetáculo deveria trazer canções que fizessem alusão à história. Com direção musical de Tony Lucchesi, compositores curitibanos como Alice Ruiz, Carlos Careqa, Jovem Dionísio, Heitor Humberto, Tuyo, entre outros, embalaram a jornada de Alice ao encontro do que procura, dentro da dimensão criada que combinava raízes com resistência cultural, em um cenário com mobiliários muito bem distribuídos e luzes compatíveis.
Com direção de Nana Mercury, Madrugueiro trouxe a poesia com referências afetivas em ações sustentáveis e com acessibilidade. Uma história emocionante e divertida de pertencimento a uma cidade que carrega marcas singulares.