Até o ano passado, Beatriz Galindo trabalhava com vendas. De espaços no mercado digital a franquias de lojas de café. Estas, aliás, um grande sucesso, pois parece haver uma unidade da marca que ela representava em cada uma das quadras centrais de Curitiba.
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Mas nem só de boas vendas se vive e, a certa altura, Bea e o companheiro Lucian Woytovicz amadureceram a ideia de abrir uma agência digital para atender a um nicho específico de clientes.
“Vimos que surgiam agências em todas as áreas, mas poucas voltadas para a cultura. Muitos autores, companhias de teatro e músicos precisam desse suporte, mas não têm verba ou equipe”, explica.
Após trabalhar por um breve período numa agência de comunicação, a oportunidade veio, ao acaso, de um lugar inesperado. Numa conversa familiar, ela ouviu que o escritor Dalton Trevisan e sua agente e editora, Fabiana Faversani, planejavam criar uma conta no Instagram.
O plano era aproximá-lo de novos leitores, como parte do movimento de mudança de editora — da Record para a Todavia — pelo qual a obra de Dalton passou em 2024. Bea, que é filha do tradutor, professor, dramaturgo e escritor Caetano Galindo, se apresentou para a empreitada.
Embora tenha crescido cercada por livros, Beatriz admite que conhecia pouco da obra de Trevisan antes do projeto. “Comprei livros, ganhei alguns da Fabiana e fui a sebos. Li muito para entender”, disse.
“Fizemos três posts de apresentação, e o primeiro grande movimento foi uma collab com a Editora Todavia. Em três dias, o perfil pulou de 100 seguidores para milhares”, conta.
Dalton, então com 99 anos, acompanhou as postagens à distância, sempre via Fabiana. “Ela dizia que ele se divertia com os comentários e ficava tentando entender os emojis.”
Poucos meses depois, em dezembro de 2024, o escritor faleceu e foi um post escrito por ela que, após alguma confusão na imprensa e nas redes, confirmou a morte de Dalton.
“Naquela noite, já tínhamos um post preparado. Publiquei após falar com a editora, e no dia seguinte praticamente todos os jornais usavam a frase do perfil para noticiar o falecimento.”
Na verdade, dentro do ethos de privacidade que sempre circundou o projeto literário de Dalton, não era para ninguém saber quem fazia as redes do escritor, mas seu pai “deu com a língua nos dentes” em entrevistas sobre Dalton à imprensa nacional.
De qualquer forma, se era para começar uma agência dedicada a atender também a escritores, a Momo, criada por Beatriz e Lucian, começou pelo topo da cadeia alimentar.
E agora está prospectando novos clientes que queiram fortalecer sua presença nas redes sociais e conversar com públicos mais amplos.
A ideia, segundo Bea, é abrir caminhos e contar as histórias dos clientes para que autores e artistas tenham tempo de se dedicar ao que mais importa: escrever e criar as próprias.
Caetano Galindo, outro autor best-seller, tornou-se cliente e hoje a carteira inclui nomes como o fotógrafo André Tezzal e está em negociação de contratos na área editorial, teatral e de arquitetura dentro e fora de Curitiba.
Para ela, uma agência de comunicação é como uma fábrica de contar histórias — um território, portanto, bastante familiar para a eloquente Bea, que cresceu numa família de escritores, tradutores e jornalistas.
Ela mesma já traduziu do inglês para o português títulos infantojuvenis e livros de dieta e educação evangélica. Nas horas vagas, Beatriz é fã, gosta de musicais — em especial Rocky Horror Picture Show —, faz colagens e cuida de seus animais de estimação: a cachorra Muqueca e três gatos, Feijoada, Valentina e Naomi.
Como leitora, gosta de mesclar ficção, teoria e literatura estrangeira. É fã da tetralogia A Amiga Genial, de Elena Ferrante, do autor brasileiro Itamar Vieira Junior e da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie.
Mas seu livro preferido, de cabeceira, teve a tiragem de uma cópia da qual ela é a única leitora. A obra foi escrita e manufaturada pelo pai como um presente pelo seu aniversário de quatro anos: Selene e o Sapo Mais Feio do Mundo, a história de um anfíbio cururu apaixonado pela lua.
Quem sabe um dia ela conte essa história para a gente.