Cerca de 420 mil espectadores — 80 mil a menos em relação à edição anterior — acompanharam as mais de 80 atrações divididas nos cinco palcos do The Town. O número parece indicar sucesso, mas não é bem assim.

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Sabemos que um evento desta magnitude custa caro, o que influencia diretamente nos valores dos ingressos. Entretanto, considerando o salário mínimo brasileiro e o preço das entradas (R$ 487,50 o valor mínimo), é certo que o festival se volta às classes mais abastadas, deixando muitos fãs de música de fora.

Capital Inicial, Ivete Sangalo e Jota Quest

Antes de tudo, não há absolutamente nada contra estes artistas. Mas de novo?

Embora o show de Ivete Sangalo tenha sido energético, você há de convir que ela é presença garantida, seja no The Town ou no Rock in Rio, o que acaba fazendo faltar frescor na apresentação.

Capital Inicial entra na mesma leva e, pior: sempre com o mesmo setlist, dando margem para uma ou duas músicas novas. Sempre.

Encontrar alguém? Jota Quest é outra banda manjadíssima nos eventos dos Medina.

Trap vs Lauryn Hill

Estilo que vem ganhando adeptos a cada dia — especialmente no público mais jovem — o trap ganhou uma essência de “quebradeira” ao incluir o mosh-pit (roda punk ou seja lá como você chama) entre o público. Até aí, tudo bem. O problema é um show ser interrompido por risco de pisoteamento. E acredite, teve gente que achou demais! Para quem está acostumado com a cultura punk, sabe que o mosh é, acima de tudo, cuidado e respeito.

E, como disse, sabemos que o público do trap é essencialmente jovem, mas qual a desculpa para a maioria deles sequer saber quem é Lauryn Hill? Sim. Isso aconteceu (ainda bem que pra Lauryn Hill não faz diferença).

Lauryn Hill: ícone dos anos 90 mas pouco conhecida entre a geração Z. Foto: Vans Bumbeers

Duda Beat e Luísa Sonza

A pernambucana Duda Beat tem um talento enorme para criar seus álbuns. Todavia, ficou meio perdida no palco The One. Talvez a opção do microfone de orelha, ao invés do tradicional, tenha deixado as suas mãos livres demais e sem saber muito o que fazer. Isso sem contar o cover de Wuthering Heights (Kate Bush). Ela até chegou a alcançar as notas em algum momento, mas ficou um pouco nítido o sofrimento vocal da artista. Foi de uma coragem única cantar Kate Bush, mas poderia ter sido em outra situação.

Cover de Kate Bush e uma atuação um pouco apagada de Duda Beat. Foto: Lucas Ramos

Já Luísa Sonza, que anunciou a nova era remodelando seu visual um pouco Abba/Sabrina Carpenter, canta bem, dança bem, mas acaba faltando uma pimenta, um sal a mais.

Backstreet Boys e Mariah Carey

Dois shows para fãs. E afinal… Mariah Carey fez playback ou apenas usou uma base? Essa foi uma dúvida recorrente, já que ela mal se mexia no palco. Sabemos que Mariah é uma artista vocal, que, aliás, sempre foi uma das maiores do mundo, mas parecia que ela estava embrulhada literalmente em um papel filme que impedia seus movimentos.

Mariah Carey se movimentou pouco mas garantiu os vocais. Foto: Ellen Artie

O Backstreet Boys fez um show nostálgico para maiores de 35. Foi certinho, dentro do proposto, mas só.

Jason Derulo e CeeLo Green

Que ano é hoje?

Acertos de line-up

Green Day e Iggy Pop

Para a galera do rock, esses foram os grandes acertos da edição.

Iggy Pop, aos 78 anos de idade, ainda carrega — mesmo com dificuldades físicas — o palco nas costas. Ver isso ao vivo é uma bela canetada na caderneta de shows inesquecíveis.

Já o Green Day colocou o público no bolso assim que entoou os primeiros acordes de American Idiot.

Green Day colocou a plateia no bolso. Foto: Fabio Tito

O som que vem do Pará

Uma das coisas mais legais que aconteceram nesta edição do The Town foi o show de Joelma com as participações muito especiais de Gaby Amarantos, Zaynara e Dona Onete. Finalmente a música do Norte foi exaltada em um grande evento e pelo público, que adorou a apresentação.

Joelma trouxe o Pará para o The Town. Foto: Leo Franco.

Jessie J, Katy Perry e Camila Cabello

Tudo bem que elas não sejam tão inéditas assim (no caso de Katy Perry), mas elas sabem o público que têm e como lidar com isso.

Jessie J poderia ter cancelado seu show pelo simples fato de estar fazendo um tratamento contra um câncer de mama. Porém, ela fez questão de premiar os fãs brasileiros com um show acústico muito bem feito.

Camila Cabello gosta do Brasil e fez questão de mostrar isso ao cantar o hit de Michel Teló, Ai Se Eu Te Pego. É uma música bastante velha, mas valeu pela intenção.

Já Katy Perry encerrou o The Town como um dos shows mais esperados do festival e tocou seus maiores sucessos para um público sedento. Disse que queria vir ao Brasil de qualquer forma — quando quase cancelou sua turnê por aqui devido ao valor da sua estrutura de show— chamou um fã ao palco e esbanjou carisma. Fechou bem. Redondinho.

Katy Perry dominou o público no último show do evento. Foto: AG News

E para os próximos?

O Rock in Rio, que conta com a mesma curadoria do The Town, já tem datas para acontecer: 4, 5, 6, 7, 11, 12 e 13 de setembro de 2026.

Nada garante que os Medina vão inovar muito na composição do line-up. E não duvide: podemos esperar, novamente, Capital Inicial, Ivete Sangalo, Jota Quest, Bruno Mars e as figurinhas de sempre. Está na hora de ousar, não?

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Jornalista, DJ e especialista em música brasileira

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