Por Gabriel Costa, especial para o Fringe
Em 2024, Kendrick Lamar e Drake protagonizaram uma das maiores disputas públicas da história da música. Foram mais de dez faixas recheadas de ataques diretos, pessoais e provocativos. Os dois transformaram a cena do rap em um verdadeiro ringue — e, como em toda boa luta, alguém precisava sair vencedor. Desta vez, o resultado foi claro.
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Kdot. Kendrick. Man Man. Bogeyman. Kung Fu Kenny. GOAT.
Chame como quiser. O rapper de Compton não apenas derrotou Drake, como reafirmou seu posto como um dos artistas mais brilhantes de sua geração — seja pelas letras afiadas que denunciam o racismo, a violência policial e as contradições da condição humana, seja pelas performances intensas, carregadas de emoção e personalidade.
Na última terça-feira, 30 de setembro, Kendrick Lamar se apresentou em São Paulo, em seu terceiro show no Brasil. O espetáculo, parte da Grand National Tour, que divulga o álbum GNX, é uma celebração da discografia e do talento singular do rapper.
Ao longo de quase duas horas de apresentação, Kdot percorreu diferentes fases de sua carreira, interpretando faixas de quase todos os seus projetos — um feito raro em tempos em que muitos artistas apostam apenas em singles e hits soltos, desvinculados de um conceito maior.
Desde o início, Kendrick se destacou por lançar álbuns altamente conceituais, com narrativas que vão muito além da superfície das canções. No show, essa característica se mantém. O artista preparou conteúdos exclusivos para a turnê, com vídeos que simulam entrevistas, julgamentos e curtas protagonizados ao lado da cantora SZA, que também participou de todos os shows nos Estados Unidos.
Tempestade
Apesar de ter pouco mais de 1,60 m de altura, Kendrick Lamar é uma verdadeira tempestade no palco. Ele canta barra por barra, palavra por palavra, com uma energia e um fôlego simplesmente impressionantes. É um daqueles raros casos em que a versão ao vivo supera — e muito — a gravação de estúdio. O palco se torna pequeno diante de sua presença: parece que estamos diante de um gigante.
Mais do que dominar o microfone, Kendrick entende o público. Em um país onde o inglês não é a língua materna, é desafiador acompanhar um rap de cinco minutos do início ao fim. Para driblar essa barreira, o artista enche o estádio de energia, intensidade e conexão. No palco, ele fala a mais universal das línguas: a da música.
Mais do que os Grammy’s, BET’s, VMA’s e até o Prêmio Pulitzer — conquista inédita para um rapper —, Kendrick Lamar é a personificação do sonho de uma geração inteira. E ele sabe disso. Como diz em ELEMENT.: “Eu não faço isso pela fama, eu faço isso por Compton.”
Emprestando as palavras do rapper brasileiro BK’, Kendrick Lamar é “a continuação de um sonho”, um sonho que não termina nem se esgota nele, mas que vive, respira e renasce toda vez que alguém dá o play em um de seus álbuns.