Após 21 anos de ditadura militar, o Brasil finalmente conseguiu ir às urnas para eleger diretamente um presidente, mas viu o sonho democrático ruir após a eclosão de um dos maiores escândalos de corrupção da história.
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Com produção da Boutique Filmes, a série documental Caçador de Marajás estreou na Globoplay no último dia 16 e conta, em sete episódios, a ascensão e queda de Fernando Collor de Mello. Uma história em torno de uma das famílias mais influentes do país, envolvendo poder e traição a partir do embate entre os irmãos Fernando e Pedro Collor.
Quem conta a história
Os depoimentos de jornalistas, políticos, funcionários do Planalto e membros da família que viveram in loco todo o processo — da eleição ao impeachment de Collor — retratam os principais episódios entre discussões, acertos, escândalos e bravatas envolvendo o governo do ex-presidente.
São nomes como Xico Sá, Mônica Waldvogel, Mário Sérgio Conti e Thereza Collor, entre outros. Um almanaque de um período nebuloso em que a ganância entre irmãos ditou os destinos da nação.
Uma ascensão meteórica
Festejado entre a alta sociedade alagoana, Fernando Collor fez carreira rápida na política — da prefeitura de Maceió ao governo do Estado — de onde mirou a presidência da República, pulando de galho partidário em galho até encontrar ninho no nanico PRN.
Carismático, logo despontou no topo das pesquisas, disputando com nomes como Brizola e Lula, e acabou sendo eleito, no segundo turno, o primeiro presidente da redemocratização.
Contava com o apoio de uma população esperançosa de dias melhores, mas que acabou destroçada após o anúncio do Plano Collor, famoso por confiscar o dinheiro da poupança de um povo calejado pela hiperinflação.
Do caçador de marajás ao próprio marajá
Autoproclamado como “caçador de marajás” na campanha presidencial de 1989 — por supostamente combater os privilégios do funcionalismo público — Collor se enredou em um esquema de corrupção e tráfico de influência orquestrado por seu braço direito, Paulo César Farias (PC Farias).
O presidente ostentava uma vida de luxo na Casa da Dinda, e as contas da primeira-dama, Rosane Collor, eram pagas pelo próprio PC, através de suas empresas. Collor se viu, então, do outro lado da narrativa que ele próprio havia construído: era o próprio marajá a ser combatido.
Caim e Abel
Ao mesmo tempo em que a avalanche de corrupção política inundava o gabinete de Fernando, Pedro Collor estava à frente do Grupo Arnon de Mello, um gigante da comunicação alagoana fundado pelo patriarca da família.
A relação entre os irmãos sempre foi extrema. Fernando era um ídolo para Pedro, entretanto, se viu traído quando PC Farias inaugurou seu próprio jornal em Alagoas — com o aval de Fernando — batendo de frente com o grupo familiar liderado por Pedro.
A partir daí, desavenças, traições (possivelmente conjugais, envolvendo Thereza, esposa de Pedro, com o cunhado Fernando), abuso de drogas ilícitas e brigas permearam a vida dos dois, levando ao grande caos, definitivamente instaurado por Pedro em uma entrevista-bomba à revista Veja, que deflagrou o processo de impeachment do ex-presidente.
“Não consigo me lembrar o que eu teria feito para o Pedro. Acho que talvez tenha sido inveja”, comenta o ex-presidente ao se referir ao irmão.
Foi o início do fim.
A história do Brasil catalogada
Para quem não viveu naquela época, o documentário é imprescindível para entender o rumo político do Brasil.
Para quem viveu, é uma memória de um dos momentos mais difíceis do país: a dor de perder todo o dinheiro investido na poupança, os caras-pintadas que foram às ruas pedir o impeachment e o degredo político.
Está tudo em O Caçador de Marajás.

