OBITUÁRIO Faleceu ontem, 5 de agosto, em Curitiba, o músico, produtor e engenheiro de som Carlos Roberto de Oliveira Freitas. Ele tinha 77 anos e estava internado no Hospital de Clínicas. A despedida de Carlinhos, como era conhecido, será hoje (6) no Crematório Vaticano em Almirante Tamandaré.

Inteligente, engraçado e gente-boa, Carlinhos foi uma figura central da indústria da música paranaense nos últimos 60 anos. Nascido em Porto Amazonas, região sul do estado, cresceu em Curitiba e formou-se em eletrônica.

Ainda adolescente, tornou-se músico. Foi baterista da banda de iê-iê-iê “Os Carcarás”, uma das pioneiras do rock curitibano. Os Carcarás abriram os shows das turnês de Roberto Carlos no Paraná e em Santa Catarina. Durante quase dois anos no final da década de 1960, e tiveram um programa próprio aos domingos no antigo Canal 12, atual RPC TV.

O baterista Carlinhos, agachado, ao centro, com a Aquarius Band. Foto: reprodução.

Nos anos 1970, boa parte da banda formou a lendária Aquarius Band, a mais famosa formação de banda de baile no estado durante a década, ao lado de nomes como Paulo Chaves, Celso Pirata e Saul Trumpet. A banda lançou discos que hoje são raros e disputados por colecionadores – todos produzidos e gravados por Carlinhos.

Em 1975, ele começou a trabalhar no Estúdio Sir, o mais importante da cidade nas décadas seguintes. Carlinhos foi engenheiro de som e produtor de incalculáveis discos – “milhares”, ele estimava – incluindo obras-primas como o disco de Chico Mello e Hélio Brandão, que recentemente foi revisitado em show.

Chamada a Cobrar

Inventor e autodidata, Carlinhos construiu em quatro meses a primeira mesa de gravação do Sir com 32 canais, feito a partir de material eletrônico trazido como sucata de São Paulo. Ele continuou trabalhando com gravações de música, jingles e comerciais até seus últimos dias, mas sua contribuição mais famosa para a memória musical brasileira veio em 1987.

Naquele ano, o músico recebeu o pedido de um amigo – então diretor da Telepar – para criar uma melodia simples de cinco notas para o serviço de “chamadas a cobrar”, que seria implantado pela empresa no ano seguinte.

Freitas criou um timbre próprio no sintetizador usado pela banda de baile Sanjazz do clube Santa Mônica, da qual era o baterista. Sem que ele soubesse, sua composição passou a ser usada em todas as operadoras públicas do país. Freitas tratou de registrar sua composição e iniciou uma disputa judicial para receber os direitos autorais pelo uso de sua criação no país todo.

Em 1990, no tempo dos telefones fixos, Freitas recebeu um laudo da Telebrás informando que eram feitas em média 50 milhões de chamadas a cobrar por dia. O processo judicial para reconhecer Carlinhos como autor da melodia está em andamento há anos, mas o músico faleceu antes da conclusão do processo.

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

1 comentário

  1. Vanessa Simioni on

    Meu pai querido…lutou boa parte de sua vida tentando receber seus direitos autorías. Agora nos cabe continuar essa batalha!!

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