Em cartaz nos cinemas desde quinta (21), “Retrato de um Certo Oriente”, de Marcelo Gomes, venceu neste sábado (23/11) o prêmio de melhor filme no Festival de Huelva, na Espanha.

A conquista confirma a recepção do longa-metragem pela crítica em passagens festivais internacionais, como RotterdamRio e São Paulo.  E fecha a um quadrado de quatro filmes nacionais em cartaz ao mesmo tempo que tem qualidade superior, reconhecimento de prêmios, crítica e público. Os outros são Ainda Estou Aqui, Malu, Avenida Beira-Mar.

Baseado no livro do mesmo nome de Milton Hatoum, vencedor do Jabuti em 1990 e traduzido para diversas línguas, a coprodução ítalo-brasileira, que marca os 20 anos da Matizar Filmes, narra a saga de imigrantes libaneses no Brasil, explorando temas profundos como memória, paixão e preconceito.

Ambientado na floresta amazônica, o filme acompanha a jornada de dois irmãos católicos em fuga da guerra no Líbano de 1949 e embarcam rumo ao Brasil. Durante a travessia, Emilie se apaixona pelo comerciante muçulmano Omar, o que acentua o ciúme de seu irmão Emir, levando a consequências trágicas.

Marcelo Gomes escolheu para os papéis principais os atores Wafa’a Celine HalawiCharbel Kamel e Zakaria Kaakour – todos libaneses – porque queria dar mais autenticidade às atuações.“A presença desses atores traz para mim uma verdade. E cada um deles me mostrou sutilezas de sua cultura e de sua religião que enriqueceram o filme”, resume.

Ao adaptar o livro de Hatoum, o cineasta foi atraído pelas camadas de memória e alteridade presentes na obra. Para ele, a obra conta uma história de amor entre pessoas de religiões diferentes, algo impossível no Líbano, mas que encontra novas oportunidades na Amazônia. Inspirado pelo desejo de explorar sentimentos românticos e amores proibidos entre jovens imigrantes libaneses, Gomes faz uma reflexão sobre as barreiras culturais e a busca por um futuro melhor, temas já presentes em sua filmografia, como no aclamado “Cinema, Aspirinas e Urubus”.

“Neste filme, como em outros que dirigi, sou fascinado pela ideia de explorar o conceito de alteridade. Acredito que a única maneira de desconstruir preconceitos é ver o mundo através dos olhos dos outros. Eu ousaria dizer que este é, talvez, o único antídoto para combater o fanatismo”.

Retrato de Um Certo Oriente

O pernambucano filmou em preto e branco para manter a conexão com o passado e as memórias dos personagens. Ao lado do diretor de fotografia brasileiro Pierre de Kerchove, acentuou as diferenças de luz entre a Floresta Amazônica e o Oriente Médio, explorando como essas diferenças se refletiam na mentalidade dos personagens.

“Decidimos filmar em preto e branco para trazer uma aura de mistério ao filme e à Floresta Amazônica, retratando aquela imensidão verde em tons de cinza. Além disso, a fotografia em preto e branco é um elemento-chave na narrativa, pois as fotografias são objetos que evocam memórias de dias melhores, despertam esperança e oferecem uma possibilidade de cura para as feridas do passado.”

Em Curitiba o filme está em cartaz no Cine Passeio e no Brasil é possível saber onde no indispensável Adoro Cinema.

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