A exposição Mupotyra: Arqueologia Amazônica, em cartaz no Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (MuBE), revela duas conclusões de grande impacto: a) há registros de cidades amazônicas desconhecidas e de uma rede de estradas que as conectava em um passado distante; b) boa parte da floresta que conhecemos hoje não é um fenômeno natural puro e simples, mas muitas das espécies ali presentes foram plantadas e manejadas ao longo do tempo por seres humanos e outras formas de vida.

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Entre os achados, destaca-se a identificação de vestígios de complexas redes de caminhos e grandes agrupamentos humanos datados de 2.500 anos, feitos de materiais perecíveis como madeira e palha. Além disso, o desenvolvimento de um sistema de construção com aterros artificiais permitiu a ocupação permanente dos campos alagáveis na Ilha do Marajó (PA).

Descobertas mudam visão sobre a floresta

Essas descobertas — que, por si só, já seriam motivo suficiente para visitar a exposição e conhecer os estudos que a embasam — foram expostas pelo arquiteto e professor Guilherme Wisnik, um dos curadores da mostra, em uma entrevista para a Rádio USP.

Wisnik contou que, a partir da pesquisa de dois professores do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, Carla Gibertoni e Eduardo Góes, foi possível constatar que a ação de povos indígenas ancestrais foi determinante para a formação da Floresta Amazônica. Com isso, se derrubou a ideia de que o ser humano seria um intruso na floresta.

Pelo contrário, “o ser humano é um partícipe fundamental na dinâmica que constrói esse bioma”. Ele explicou que, ao invés de uma dicotomia entre natureza e cultura, passa-se a entender uma cultura — a dos povos ameríndios — que viveu sempre em harmonia com a natureza, se mesclando a ela, em uma concepção de agrobiodiversidade que não se baseia na exploração.

A relação dos povos indígenas com a floresta

Para traduzir esse conceito em termos visuais, a exposição reúne arqueologia, arte e meio ambiente para discutir a ocupação da região e os impactos da exploração excessiva dos recursos naturais em nome do desenvolvimento. Mupotyra significa “florescer” em Nheengatu, a língua geral amazônica. Ao revisitar o passado, a mostra propõe um chamado à consciência para imaginarmos novos futuros de forma sustentável.

A expografia de Marcelo Rosenbaum combina materiais arqueológicos e vídeos com arte contemporânea indígena. Os artistas indígenas participantes da mostra são destaques ao promoverem a arte indígena no contexto contemporâneo, não apenas como expressão artística, mas também como atos de resistência, conectando-se com as raízes que as sustentam.

 

Artistas participantes: Yaka Huni Kui, Uýra, Thiago Guarani, Tainá Marajoara, Rita Huni Kuin, Pedro David, Keyla Palikur, Jaider Esbell, Gustavo Caboco, Gê Viana, Frederico Filippi, Elisa Bracher, Denilson Baniwa e Lilly Baniwa, Coletivo Artistas Pelo Clima, Cassio Vasconcellos e Maurício de Paiva.

A abertura da exposição conta com a inédita coleção de Ricardo Cardim, que retrata a propaganda do projeto desenvolvimentista da ditadura militar, com uma política de exploração intensa da Amazônia, e propõe uma reflexão sobre como chegamos à destruição que vemos hoje.

Arte e arqueologia na expografia

 

A mostra traz ao público parte importante de uma das principais coleções de arqueologia e etnologia da Amazônia do mundo: o acervo do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. Entre os artefatos expostos estão coroas, cocares, cestas, vestimentas e peças de cerâmica, que revelam o conhecimento altamente qualificado e o processo de resistência dos povos indígenas no Brasil.

A exposição evidencia a importância das pesquisas arqueológicas, especialmente para a compreensão do papel dos povos indígenas no manejo dos territórios e na contribuição para a diversidade ambiental, como o plantio de espécies de árvores ao longo de trilhas e roças. Um dos projetos dessa natureza, desenvolvido por Thiago Guarani, propõe, a partir dos conhecimentos indígenas, a recriação das paisagens que formam as áreas de floresta da Amazônia na atualidade.

Com entrada gratuita, a exposição fica em cartaz no MuBE até o dia 9 de março de 2025 e conta com programas educativos, visitas guiadas e atividades especiais nos ateliês abertos aos finais de semana.

Mupotyra: Arqueologia Amazônica

Onde: MuBE – Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia R. Alemanha, 221 – Jardim Europa, São Paulo

Quando: até o dia 9 de março

Quanto: entrada gratuita

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