Por Dani Brito do Festival de Curitiba
Os grandes clássicos do teatro resistem ao tempo porque dialogam com diferentes épocas e realidades. No 33º Festival de Curitiba, de 24 de março a 6 de abril, três montagens entre as 27 da Mostra Lucia Camargo reafirmam essa força ao revisitar obras icônicas sob novas perspectivas e urgências contemporâneas. William Shakespeare, Anton Tchekhov e Luís de Camões se encontram com o presente e provam que o palco é um espaço de transformação.
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A Cia. Extemporânea, de São Paulo (SP), traz uma proposta ousada e vibrante com “Rei Lear”, uma versão da tragédia shakespeariana imersa no universo drag queen. Sob a direção de Ines Bushatsky, o espetáculo transita entre a poesia clássica do Bardo e a estética exuberante das performances drag, criando um diálogo entre a força trágica do texto original e a subversão de gênero característica da arte drag. A adaptação, assinada por João Mostazo, mantém a essência dramática da peça, mas lhe confere novos contornos ao desconstruir os papéis tradicionais de poder e identidade.
No enredo, Lear, rei da Bretanha, decide dividir o reino entre as suas três filhas, Cordelia, Regan e Goneril. Porém, Cordelia se recusa a participar do ritual de passagem da coroa e o rei, furioso, a condena ao exílio. O exílio de Cordelia põe em marcha a completa desagregação do reino. Sem coroa, traído pelas filhas e vendo seu reino à beira da guerra, Lear afunda em uma espiral de loucura.
No elenco da peça estão nomes como Alexia Twister (indicada ao Prêmio Shell de Melhor Ator pelo papel de Lear), Antonia Pethit, DaCota Monteiro, Ginger Moon, Lilith Prexeva, Maldita Hammer, Mercedez Vulcão, Thelores e Xaniqua Laquish, que trazem vigor e autenticidade à releitura. O espetáculo fica em cartaz nos dias 31 de março e 1º de abril, sempre às 20h30, no Guairinha.
Já “Júpiter e a Gaivota – É impossível viver sem o teatro”, da Cia Setor de Áreas Isoladas, de Brasília (DF), faz parte de uma trilogia em homenagem ao dramaturgo russo Anton Tchekhov e traz uma releitura de “A Gaivota”, uma das obras mais emblemáticas do teatro russo. No espaço vazio do palco, uma companhia latino-americana encara as incertezas do presente e do futuro, refletindo sobre as dificuldades do fazer teatral e as turbulências sociopolíticas do mundo atual.
Com uma abordagem metalinguística, a peça desafia o espectador a refletir sobre arte, resistência e a necessidade de continuar em cena, apesar dos tempos difíceis. O elenco conta com Ada Luana (que também assina a dramaturgia e a direção), Ana Paula Braga, Camila Meskell, Chico Sant’Anna, Gil Roberto, Gleide Firmino, João Campos, Marcellus Inácio, Marília Santos e Rômulo Mendes. O espetáculo terá sessões nos dias 3 e 4 de abril, às 20h30, no Guairinha.
No 33º Festival de Curitiba, o poeta português Luís de Camões também estará entre nós. O ator e comediante Gregório Duvivier revisita a poesia de Camões de forma irreverente no monólogo “O Céu da Língua”, um dos grandes destaques do 33º Festival de Curitiba. Misturando stand-up comedy e literatura, a peça propõe uma reflexão divertida sobre a presença da poesia no cotidiano, provando que o gênero pode ser acessível e envolvente.
Após uma estreia de sucesso em Portugal, o espetáculo chega ao grande auditório do Teatro Guaíra para apresentações nos dias 3 e 4 de abril. Com direção de Luciana Paes, ambientação musical de Pedro Aune e projeções assinadas por Theodora Duvivier, Gregório encarna Camões e conduz o público por um jogo inteligente entre humor e literatura. As sessões de “O Céu da Língua” acontecem nos dias 3 e 4 de abril, às 20h30, no Guairão.
