Há poucas atividades mais gostosamente satisfatórias do que escarafunchar jornais velhos. Por sorte e conta de minhas atividades profissionais, passo muito tempo – no geral em madrugadas silenciosas – mergulhado nas folhas, diários e pasquins brasileiros de décadas passadas e nessas horas sou feliz.
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Em geral, estou atrás de alguma informação específica – quem fez o gol, o que o presidente disse, quem matou ou morreu e quando e como. Ou então tentando desmentir com a precisão gelada da checagem alguma mitificação da história que a repetição tornou verdade ao senso comum. Quando isso acontece, há um grito de alegria.
Nesta madrugada, aliás, atrás de um evento esportivo esquecido, abri o Caderno 2 do Jornal do Brasil, o suplemento de cultura quintessencial do país, para ver o que estava rolando no Rio no dia 19 de setembro, ou seja, há exatos 49 anos atrás.
E, como diria o colunista do JB, João Saldanha, “meus amigos”:
Meu ídolo, o imortal Jamelão, o crooner dos crooners, faria uma apresentação especial, ao vivo, na Rádio Jornal do Brasil.
Outro ídolo, Jards Macalé – a quem eu tive a sorte de entrevistar e depois assistir o show há poucos dias – começava a sua histórica turnê com Moreira da Silva.
Macao e Morangueira logo viriam para Curitiba e se apresentar no recém-inaugurado Teatro Paiol, mas antes seria Macalé seria preso em Minas Gerais.
O Quinteto Violado apresentava sua Missa do Vaqueiro, com uma superprodução. Naquele mesmo ano , Em 1976 eles haviam dividido a missa com Luís Gonzaga e passaram a se apresentar em todas as edições do evento.
Foi tão forte e ficou tão bom que a apresentação foi gravada como álbum e o grupo levou ao palco a trilha musical da Missa, composta por Janduhy Finizola para a cerimônia litúrgica com cenografia inspirada na literatura de cordel. Quem viu, não esquece.
A cantora Alaíde Costa – que esteve em um dos palcos do último The Town – fez um show com o lendário violonista Turíbio Santos, que não era um só, mas tantos. No recém-reformado Teatro João Caetano.
As cantoras do Quarteto em Cy deixavam de ser um coral de apoio e faziam seu primeiro show como protagonistas, com roteiro escrito por Aldir Blanc.
No mítico Canecão, a peça Deus Lhe Pague, de Joracy Camargo, com texto atualizado por Millôr Fernandes, direção de Bibi Ferreira e Walmor Chagas encabeçando o elenco.
Naquele fim de semana, tinha chegado às lojas o segundo álbum de Cartola, o que tem O Mundo é um Moinho e ele e Zica na janela da casa.
Egberto Gismonti se apresentaria em dois dias no Teatro Teresa Rachel no dia seguinte tinha show da lendária banda de rock progressivo brasileira Veludo, mas naquele domingo, estava programado o último show no Rio de Janeiro da temporada dos Doces Bárbaros — Caetano, Gal, Gil e Bethânia.
Tava bom pra você?