Sérgio Mamberti (1939-2021) é um daqueles “homens-utopia”, o cara que a gente queria ser. Um artista que dominou todas as etapas do seu ofício e, ao mesmo tempo, um homem conectado o tempo todo com seu tempo e com a luta política em favor dos fodidos do mundo.
Ator, diretor, produtor e agitador cultural, é um personagem incontornável do teatro brasileiro do século 20, em cuja trajetória o diretor Evaldo Mocarzel e sua equipe se debruçaram durante cinco anos.
O resultado é um díptico audiovisual: uma série de três episódios, Sérgio Mamberti – Memórias de um Ator Brasileiro, já em cartaz na Sesc TV, e o filme documentário Sérgio Mamberti – Memórias do Brasil, exibido ontem na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
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O filme é guiado pela voz de Mamberti, falando desde suas primeiras lembranças de sua peculiar família em Santos, depois do fim da Segunda Guerra Mundial, até as vésperas da pandemia.
Ao contrário da série, em que Mamberti aparece em diversas entrevistas, no filme ele se faz presente pela edição de um rico material de arquivo, com home movies, cenas de bastidores, trechos de filmes e incríveis fotos e cenas de montagens teatrais, que emocionaram colegas de palco e discípulos de “Serginho”, que lotaram a plateia do Cine Reserva, no centro de São Paulo.
No áudio, colhido durante uma viagem a Santos pelo diretor anos antes da morte de Mamberti, ele fala, com sua proverbial coragem, dos 60 anos em que ajudou a agitar a cultura brasileira, sobre suas experiências pessoais nos loucos anos 1960, sobre sua vida pessoal e familiar e sobre política. O roteiro e a edição de Joaquim Castro são dignos de nota e prêmios.
E não por acaso, o filme começa com um pequeno manifesto da dupla, chamando a atenção sobre como o advento das grandes produtoras de streaming multinacionais inflacionou o “mercado” de licenciamento de direitos autorais no país, o que praticamente inviabiliza filmes independentes de baixo orçamento.
Em Sérgio Mamberti – Memórias do Brasil, porém, eles contaram com o apoio total da família e dos artistas ligados ao biografado e fizeram do possível um filme obrigatório para entender por onde andou o teatro e a política cultural brasileira enquanto Sérgio Mamberti esteve no centro deste palco.